segunda-feira, 14 de junho de 2010

Eleições: discursos ajudam a entender as estratégias dos principais candidatos

Eleições: discursos ajudam a entender as estratégias dos principais candidatos

Nos últimos dias, os três principais concorrentes ao Palácio do Planalto oficializaram as suas candidaturas à Presidência em convenções partidárias.

A maratona foi iniciada na última quinta-feira pela ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, do PV, que foi apresentada pelo partido como "símbolo" de uma nova forma de se fazer política no país.

No sábado foi a vez do ex-governador de São Paulo José Serra proferir que aceita a tarefa de concorrer à Presidência. O tucano arrancou aplausos dos militantes em Salvador com diversos ataques velados ao governo Lula.

Por fim, no domingo, Dilma Rousseff teve a chance de falar oficialmente como a candidata do PT ao Palácio do Planalto. A ex-ministra mencionou o "companheiro Lula", o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 30 vezes em seu discurso e defendeu a continuidade dos principais projetos da gestão atual.

Enquanto os programas de governo não são divulgados, os discursos ajudam a entender quais são as estratégias de campanha dos principais candidatos.

Marina Silva

Nascida em um seringal no Estado do Acre, alfabetizada apenas aos 16 anos e vítima de uma contaminação por mercúrio, a ex-ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva mencionou diversos episódios de sua biografia na convenção do PV, na última quinta-feira.

A história da mulher humilde que "venceu", apesar das adversidades - e que agora tenta a principal cadeira do Palácio do Planalto - pode ajudar a candidata do PV a conquistar a simpatia principalmente do público feminino e de eleitores mais alinhados à esquerda.

Mas esse não é o único alvo da ex-ministra. Ao mesmo tempo em que critica a "desigualdade de oportunidades" e a "velha política de alianças", Marina também tem flertado com princípios mais associados à direita.

As diretrizes que vão servir de base para o programa de governo falam não apenas em manter a política macroeconômica vigente, como sugerem um maior aperto fiscal.

O texto diz que, para ampliar a capacidade de investimentos do Estado, "é fundamental conter o crescimento dos gastos públicos correntes à metade do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB)".

Para muitos analistas, a escolha do empresário Guilherme Leal para a vaga de vice-presidente é mais uma tentativa de aproximação entre o setor produtivo e uma candidata cujo principal mote de campanha é o crescimento sustentável, ou seja, com baixa emissão de gases de efeito estufa.

Marina Silva vem tentando defender essas ideias sem fazer críticas mais contundentes a seus adversários. Em seu discurso na quinta-feira, a ex-ministra chegou inclusive a elogiar o presidente Lula e o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

José Serra

No sábado, dia em que teve sua candidatura formalizada pelo PSDB, José Serra fez um de seus discursos mais críticos ao governo atual, com uma série de ataques velados ao presidente Lula e à sua candidata, Dilma Rousseff.

Se for possível ler mensagens nas palavras de Serra, uma delas é a que o ex-governador de São Paulo deverá concentrar esforços nos temas que considera como pontos fracos do governo atual.

"Acredito nos direitos humanos. Não devemos elogiar continuamente ditadores em todos os cantos do planeta, só porque são aliados eventuais do partido do governo", disse Serra, referindo-se à aproximação do governo atual com regimes autoritários.

Ainda na linha dos ataques velados, Serra disse que "não tem patota", não tem "militância paga" e que não caiu "de paraquedas" na política - em alusão à falta de experiência administrativa da candidata Dilma.

Além das críticas, Serra também deu espaço à sua biografia: mas ao contrário de Marina Silva, que em seu discurso colocou maior peso nos momentos "difíceis", o tucano preferiu falar do seu engajamento político desde a juventude e de seus "feitos" nos diversos cargos que exerceu.

O discurso reflete a estratégia de Serra de tentar se diferenciar da candidata do governo pela "experiência" e pela "competência". "Minha atuação na vida pública atesta a minha coerência", disse Serra, que além de governador já foi prefeito, senador e ministro.

"Vamos abrir um grande canteiro de obras pelo Brasil inteiro, como fizemos em São Paulo", disse.

Dilma Rousseff

Dar continuidade aos projetos e ao programa de governo Lula foi a principal mensagem de Dilma Rousseff aos militantes do PT presentes à convenção do partido, neste domingo, em Brasília.

A candidata escolhida pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva para sucedê-lo no cargo citou as áreas e programas considerados símbolos da gestão atual, como a exploração do pré-sal, o Prouni e o programa Luz para Todos - e prometeu "fazer mais".

Lula tem uma popularidade que chega a 75% dos brasileiros, segundo pesquisas recentes. A transferência dessa empatia com o presidente para sua candidata é considerada um dos principais trunfos de Dilma Rousseff.

A aposta na figura do presidente Lula ficou clara no discurso deste domingo: a ex-ministra da Casa Civil mencionou o presidente Lula 30 vezes em uma fala que durou cerca de 50 minutos.

A ideia central do discurso foi de "seguir mudando", mantendo assim o conceito de continuidade, mas com avanços. "Se seguirmos mudando, o Brasil vai mudar definitivamente de patamar", disse.

Outra característica marcante do lançamento oficial da candidatura de Dilma Rousseff foi o apelo ao público feminino. Ao contrário de Marina Silva, que tentou atingir esse alvo nas entrelinhas, Dilma falou diretamente às mulheres.

"É mais que simbólico que, nesse momento, o PT e os partidos aliados estejam dizendo: chegou a hora de uma mulher governar esse país", disse, para logo em seguida acrescentar: "nós, mulheres, nascemos com o sentimento de amparar, de proteger".

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