quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Bate-boca no Senado

Simon diz que Sarney quer desmoronar junto com o Senado após bate-boca

A postura mais aguerrida dos defensores da permanência de José Sarney (PMDB-AP) na presidência do Senado vai acirrar o impasse na Casa e fazê-la perder ainda mais credibilidade, afirmou o senador Pedro Simon (PMDB-RS) em entrevista ao UOL Notícias. Para ele, a "tropa de choque" com a qual discutiu duramente na sessão de segunda-feira age na base da chantagem em troca de migalhas em forma de cargos cedidos pelo Palácio do Planalto.

Em discurso da tribuna do Senado, Simon voltou a pedir a renúncia de Sarney, de quem foi ministro da Agricultura há 24 anos, e bateu boca com o líder do seu partido na Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente cassado e atual senador, Fernando Collor (PTB-AL).

Os dois parlamentares alagoanos são contra o afastamento de Sarney e creditam a setores da imprensa e a alguns dos seus colegas as denúncias de que parentes e assessores do presidente do Senado se beneficiaram da influência dele em troca de cargos. Sarney também é acusado de ocultar bens da Justiça Eleitoral, de envolvimento com atos secretos e de que a fundação que leva seu nome teria usado verba repassada pela Petrobras de forma indevida.



"É estilo tropa de choque, onde eles não tendo condição de fazer a defesa do Sarney estão partindo para a coação, assustar todo mundo. É um método muito triste", afirmou Simon em entrevista por telefone. "O Sarney está apelando para uma guerra. Ele se cai, cai junto com o Senado. Ele prefere desmoronar junto com o Senado do que ter um gesto de grandeza que não o diminuiria."

Simon afirmou que nunca se sentiu tão atacado por um colega no Senado quanto na sessão de ontem, na qual Collor o chamou de "parlapatão" [equivalente a fanfarrão, mentiroso] e disse ao senador gaúcho que deveria "engolir e digerir" palavras sobre ele antes de pronunciá-las em plenário.

"É a primeira vez (que recebo ataque tão duro). Sinceramente acho que ele estava realmente em uma situação muito estranha, muito estranha. Preferi aguardar para não responder. Ele estava a espera de uma agressão recíproca e contei até dez. Como estava na tribuna em missão de paz na tentativa de encontrar uma saída para o impasse antes de explodir, eu já vinha rejeitando as provocações do Renan e rejeitei também as do Collor. Há momento para tudo na vida e há momento em que fazer o papel deles não é o melhor", afirmou.

Um elogio e críticas a Sarney

Simon negou o ataque de Renan segundo o qual o parlamentar gaúcho, visto como referência moral da Casa, critica o presidente do Senado há décadas porque perdeu para Sarney a indicação para disputar a vice-presidência na chapa de Tancredo Neves, na eleição indireta que alçou o político mineiro ao Palácio do Planalto, em 1985.

"Quando Tancredo ficou doente e morreu, não apoiei que Sarney assumisse, preferia o presidente da Câmara. (Mas acho que) ele como presidente cumpriu a missão. Desempenhou um papel", disse Simon.

"Agora acho que depois disso o que está acontecendo é um plano inclinado onde ele é a pessoa responsável maior. Não que ele seja o único, eu sou um dos responsáveis por omissão. Eu assisti a essa coisa toda. Mas Renan e Sarney é a dupla que vem nesses últimos 15 anos dominando o Senado, se impondo. E só está dominando por causa do Lula, porque é a eles que o Lula entrega ministérios."

De acordo com Simon, políticos como Renan, Sarney e o deputado e ex-presidente do Senado Jader Barbalho (PMDB-PA) "não querem um candidato próprio à presidência da República porque querem continuar distribuindo favores e migalhas através dos cargos que eles ocupam".

"(Na crise) eles estão barganhando entre PSDB e PT. De um lado tem o Lula e do outro lado está o [governador de São Paulo, José] Serra. Quem vai ganhar não sei, se vai ser o Serra ou a ministra Dilma [Rousseff, pré-candidata do PT à Presidência]. Eu sei que o Sarney e o Renan vão estar do lado de quem ganhar.

No Senado há 30 anos - passagem interrompida apenas quando foi eleito governador do Rio Grande do Sul, em 1987 - Simon afirmou que recebeu telefonemas de vários membros históricos do MDB (Movimento Democrático Brasileiro), sigla da qual se originou o atual partido e que se contrapunha à Arena (Aliança Renovadora Nacional), presidida por Sarney para dar sustentação ao Regime Militar (1964-1985).

No fim de semana, o partido divulgou nota na qual pede que os "dissidentes", sem citar Simon, deixem a sigla.

"Recebi telefonemas e recebi manifestações. Todas elas dizendo que eu tenho que resistir, não posso fazer o que eles querem. Eles querem que eu saia, estão loucos para se ver livres de mim. Mas isso não vai acontecer. Eu represento minoria na direção partidária, mas não creio que seja minoria nas bases partidárias", afirmou.

"Eu sou a história do MDB, eu sou a continuação do Ulysses Guimarães, do Teotônio Vilela, do Tancredo, enquanto o Sarney estava lá na Arena, presidente da Arena, derrotou a emenda das Diretas Já, votou pela extinção do MDB. Uma época trágica. Nós resistimos e conseguimos chegar onde chegamos", completou.

Para Simon, "Lula criminosamente está fechado com Sarney, Renan, Jader e companhia para ganhar uma fórmula através da qual ele possa manter a maioria e a candidatura da ministra Dilma para presidente".
Matéria completa:
http://noticias.uol.com.br/politica/2009/08/04/ult5773u1879.jhtm

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