sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Pré-sal e meio ambiente

Variação dos teores de carbono no pré-sal exigirá investimentos da Petrobras, diz representante da empresa

Os teores de carbono nos poços da província petrolífera do pré-sal são variáveis, o que exigirá da Petrobras enormes investimentos para equilibrar o desenvolvimento econômico com o avanço da exploração futura de petróleo na região, que se estende da plataforma continental que vai do Espírito Santo a Santa Catarina.

A informação foi dada nesta terça-feira (10) pela representante da Petrobras, Beatriz Espinosa, na audiência pública da Comissão Mista Permanente sobre Mudanças Climáticas (CMMC) que discutiu os mecanismos de compensação de emissão de gases devido à extração de petróleo da camada pré-sal. A comissão é presidida pela senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

- Todo processo de captura [de carbono] envolve tecnologias pioneiras e compreende grandes investimentos da Petrobras para contornar a emissão de carbono na atmosfera. Cada campo tem teor diferenciado. Não é uma tecnologia isolada, mas um conjunto que tem que ser aplicado a cada campo - afirmou Beatriz Espinosa, gerente-geral de Segurança, Saúde e Meio Ambiente da Petrobras.

A audiência pública também contou com a participação de dois representantes do Ministério de Minas e Energia, Hamilton Moss e José Botelho; do representante do Ministério da Ciência e Tecnologia, Adriano de Oliveira; e da representante do Ministério do Meio Ambiente, Branca Americano.

Redução

Beatriz Espinosa explicou que o plano estratégico da Petrobras para os próximos anos estabelece metas voluntárias de redução na emissão de carbono, que hoje totalizam 50 milhões de toneladas anuais nas operações da empresa pelo planeta. A Petrobras já atua em projetos de eficiência energética e de melhoria operacional na utilização de gás natural, e ainda em projetos na área de pesquisa e desenvolvimento que serão utilizados como paradigmas futuros de operação.

Um inventário elaborado pela empresa também permite o acompanhamento e a análise crítica das emissões de carbono, explicou a representante da Petrobras. Ela acha que a redução das emissões de carbono nas operações da empresa exige uma avaliação prévia de seus processos industriais, com "um olhar na racionalização dos produtos e em ações de pesquisa e desenvolvimento".

- Há desafios na captura, no transporte, no armazenamento e no monitoramento do carbono armazenado. A Petrobras vem investindo em pesquisas nesse setor. Ainda não temos um modelo. Nessa fase de estudo, foi adotado como diretriz básica não retirar o carbono associado ao gás natural produzido. Para isso, diversos paradigmas técnicos estão sendo vencidos - afirmou.

Beatriz Espinosa explicou ainda que a Petrobras estuda uma forma de armazenar o carbono em campos de produção exauridos ou em cavernas de sal. Segundo ela, todas as alternativas na exploração de petróleo estão sendo estudadas pela empresa, que já pratica armazenamento geológico de carbono no pólo terrestre de Miranga, na Bahia.

- A exploração se dará com o cumprimento de requisitos de eficiência energética, aproveitamento do gás associado à ampliação da atuação da empresa em biocombustiveis e muito investimento em pesquisa e desenvolvimento para garantir a transição tecnológica, para que nas produções futuras sejam incorporadas medidas mitigadoras da mudança climática - afirmou.

Teores

Em sua exposição, José Botelho explicou que os teores de carbono nos poços do pré-sal variam de 8% a 12%, no campo de Tupi, e atingem 3,5% no campo de Jubarte, enquanto a média nacional é de 4%. Segundo ele, a camada do pré-sal é "extremamente heterogênea" e a variação do percentual de carbono "vai ser constante".

- Não podemos achar que em todas as áreas teremos um teor de carbono tão elevado como Tupi - afirmou, destacando que as medidas de mitigação para a emissão de carbono encontram-se previstas nos projetos de lei que tratam do regime de exploração do pré-sal, em analise na Câmara dos Deputados. As propostas também serão apreciadas pelo Senado.

Por sua vez, Hamilton Moss disse que o Ministério de Minas e Energia é favorável a qualquer medida de mitigação de impacto ambiental na exploração do pré-sal. Considerou, no entanto, que a taxação de produtos com alta emissão de carbono em sua cadeia produtiva poderá diminuir a competitividade das mercadorias brasileiras no mercado internacional.

- O Brasil tem o poder de conciliar a exploração com o crescimento econômico. Já temos uma matriz energética limpa. Temos uma base hidráulica. Não podemos andar para trás. Onerar os produtos brasileiros vai abrir o mercado local a produtos de outros países com mais conteúdo de emissão. Vai aumentar a emissão de carbono, em vez de diminuir - alertou.

Amazônia

Após as exposições, o senador Jefferson Praia (PDT-AM) disse que o processo de exploração do pré-sal é "inexorável". Segundo ele, "a reinjeção de carbono é um processo caro e é ilusão achar que o petróleo brasileiro será barato como agora".

Para o senador, o ideal seria o Brasil buscar mais informações sobre a extensão do pré-sal, tendo em vista que o país não dispõe nem mesmo de um "inventário da região e da vida que existe na área".

- Temos na Bahia o santuário da baleia jubarte. Em Santos também há outro santuário e outras coisas que não conhecemos. O ideal seria antes fazer uma avaliação ambiental estratégica, mas nós não temos força para isso. Temos que evitar a destruição das espécies marinhas e dos oceanos. A Petrobras emite 50 milhões de toneladas de carbono e o Brasil não tem um inventário - lamentou.

Jefferson Praia disse ainda que o pré-sal precisa gerar riqueza para os índios da Amazônia e para a população da região, que abriga 25 milhões de habitantes. O senador assinalou que o futuro da Amazônia depende das ações que serão adotadas atualmente e lamentou que as políticas públicas direcionadas à região "ainda deixem muito a desejar".

- Daí o nosso olhar para esses recursos. A poluição atinge os rios e igarapés. Não se sabe o que fazer com o lixo nos municípios do estado - disse o senador, ressaltando que a Floresta Amazônica é a última reserva florestal do planeta.

Jefferson Praia cobrou ainda incentivos à pesquisa na Amazônia, como forma de viabilizar a capacitação e a transformação dos jovens daquela região em cidadãos empreendedores.

- Precisamos ver como vamos fazer para capacitarmos os jovens, mas não com um artesanatozinho. As dificuldades ali são muito grandes - concluiu.

Veja info sobre aquecimento global
Paulo Sérgio Vasco / Agência Senado
http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=97258&codAplicativo=2

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